Os dados do Cemaden indicam que mais de mil cidades brasileiras estão enfrentando uma estiagem severa, com alguns municípios sem chuva registrada em pelo menos metade dos dias do ano, conforme mapeamento feito por satélite. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao governo federal, mais de 1.000 municípios estão sem chuvas significativas há pelo menos três meses, representando cerca de 20% de todas as cidades do país.

Essa situação é reflexo da maior seca enfrentada pelo Brasil em sua história recente, que ainda não dá sinais de alívio.

Os dados consideram registros de chuva até 22 de setembro, o dado mais atualizado. De acordo com a análise dos mais de 5.000 municípios brasileiros, 1.188 cidades não receberam chuva relevante nos últimos 90 dias. Goiás é o estado com a situação mais crítica, com quase todos os municípios sem chuvas há mais de 100 dias, seguido por Minas Gerais, que concentra a maior parte das cidades sem chuva em pelo menos metade do ano. Em seguida estão Mato Grosso, Tocantins, Bahia e São Paulo.

 A metodologia usada se baseia em dados de satélite, gerando estimativas para cidades inteiras. Por exemplo, a análise de São Paulo mostra ausência de chuva há 39 dias, embora tenha havido precipitação em áreas isoladas. No entanto, essas chuvas esparsas ou de baixo volume não foram contabilizadas.

Por que isso está acontecendo?

Os especialistas apontam que as causas são multifatoriais:

  1. El Niño: O fenômeno aqueceu o Oceano Pacífico, elevando as temperaturas no Brasil e alterando os padrões de chuva. Isso provocou uma seca severa, especialmente no Norte do país.

  2. Bloqueios atmosféricos: Esperava-se que a seca terminasse em abril com o fim do El Niño, mas bloqueios atmosféricos impediram a chegada de frentes frias, mantendo as chuvas abaixo da média em quase todo o Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul.

  3. Aquecimento do Atlântico Tropical Norte: Esse aquecimento acima do normal nos últimos meses alterou ainda mais os padrões de chuva, prolongando a seca que começou em 2023.

E o que esperar?

Mais de um terço do território brasileiro, equivalente a 3 milhões de km², enfrenta esta severa estiagem, afetando cidades do Norte, reduzindo os níveis dos reservatórios e ameaçando a oferta de energia, além de agravar o cenário de queimadas.

Meteorologistas, que inicialmente esperavam uma melhoria a partir de outubro com o início da estação chuvosa, agora preveem que as chuvas podem atrasar até novembro. Além disso, o fenômeno La Niña, que poderia ajudar, tem se mostrado mais fraco do que o esperado, o que significa que as chuvas que poderiam aliviar a seca talvez não sejam suficientes.

O cenário, já preocupante, pode se agravar com a chegada de temperaturas mais elevadas, o que acelera a evaporação e piora a situação dos rios em várias regiões do país.

Por: MOISES SILVA 

Fonte: globo.com