Enquanto o mundo chega ao terceiro ano da pandemia, e o Brasil dá início a uma nova etapa da vacinação contra a Covid-19 com as doses bivalentes, um item muito comum no início da crise sanitária tem desaparecido cada vez mais: as máscaras. Embora em locais abertos elas tenham saído de cena há um tempo, em ambientes fechados ainda surge a dúvida se a proteção deveria ser usada ou não.


De acordo com o levantamento mais recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o tema, no final do ano passado metade da população brasileira ainda dizia colocar a máscara em lugares como shoppings e cinemas. Mas com os casos graves da doença estáveis em patamares mais baixos e versões adaptadas dos imunizantes para a variante Ômicron nos postos de saúde, ainda é necessário o uso?


De acordo com as orientações gerais da Organização Mundial da Saúde (OMS), que foram atualizadas no último mês, as máscaras são recomendadas para “qualquer pessoa em um espaço lotado, fechado ou mal ventilado”. Já o Ministério da Saúde, em análise também de janeiro, manteve a recomendação de que o item seja utilizado nesses ambientes apenas por pessoas de maior risco para agravamento da Covid-19, como idosos, imunocomprometidos, gestantes e pessoas com comorbidades.


Especialistas concordam que a máscara não é necessária ao ar livre e que os mais vulneráveis devem utilizá-la nos locais fechados. Porém divergem em relação ao uso pela população geral nesses ambientes. A infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é uma das que concordam com as diretrizes do ministério.

— O uso é indicado em ambientes com alto nível de transmissão, como fechados, com pouca ventilação natural e aglomeração, para pessoas com risco de doença mais grave, que também incluem os não vacinados ou que não completaram o esquema vacinal ou pessoas que não fazem parte desses grupos, mas que moram com elas — diz a infectologista.


Já o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Cláudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa e médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), defende que, no cenário atual, ainda seria importante que mesmo pessoas saudáveis adotassem a máscara em locais fechados.

— Na minha opinião, a recomendação de uso apenas por grupos de risco joga a responsabilidade da proteção sobre aqueles que precisam ser protegidos. Nós já aprendemos que não precisamos da proteção ao ar livre, em locais com distanciamento ou com ventilação boa. Mas nos ambientes fechados, ou aglomerados, ainda acredito que todos deveriam utilizar máscaras — afirma o especialista.


O epidemiologista David Soeiro, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e chefe do Laboratório de Epidemiologia de Doenças Infecciosas e Parasitárias da universidade, lembra que as diretrizes da OMS sugerem ainda uma avaliação baseada na tendência local da doença.

— Há a orientação com base em uma avaliação de risco, onde devem ser consideradas as tendências epidemiológicas dos cenários locais, como o aumento dos níveis de hospitalização e níveis de cobertura vacinal — explica.


Por outro lado, o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, considera que no estágio atual da pandemia o uso do item é uma decisão pessoal, e não mais coletiva como em outros momentos, e por isso não há necessidade da utilização por pessoas saudáveis.

— Antes nós utilizamos a máscara como uma medida de saúde pública, quando todos usávamos. Porque se 50%, 60% da população utilizando adequadamente já traz um impacto na redução de danos. Mas passamos dessa fase graças às vacinas, e hoje focamos nos grupos mais vulneráveis e naqueles com sintomas — afirma.


Apesar das divergências, o uso por pessoas saudáveis em hospitais – que são locais com maior circulação de indivíduos com risco elevado de agravamento pela doença – ou por aquelas com sintomas da Covid-19 segue um consenso entre os especialistas e as autoridades de saúde.

Sobre doses bivalentes, os especialistas acreditam que elas não devem impactar de forma significativa no que diz respeito às infecções pelo novo coronavírus devido à velocidade com que subvariantes da Ômicron que conseguem gerar quadros de reinfecção, mesmo nos imunizados, têm se disseminado. Por isso, as máscaras ainda devem continuar nos cenários em que são indicadas.

— Ainda assim, a bivalente é importante porque são grupos que sabidamente perdem de forma mais rápida a proteção pela vacina, ou que não respondem da forma adequada, e estão há mais de quatro meses da última dose. O que esperamos é que ela mantenha a proteção contra hospitalização e óbito — ressalta Raquel, da SBI. Sem mais!


Por: Silvana Venâncio 


Fonte: o globo 

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