O casal suspeito de manter uma idosa internada à força em duas clínicas psiquiátricas sem estar doente teve prisão preventiva decretada pela Justiça neste sábado. Os suspeitos, identificados como Patrícia de Paiva Reis e Rafael Machado — filha e genro da vítima — foram presos nesta sexta-feira. Uma das clínicas psiquiatras onde a idosa foi internada também está interditada.


Segundo a Polícia Civil, a clínica é investigada por ter sido utilizada para colocar em prática o sequestro qualificado planejado pelo casal. Os agentes da 9ª DP (Catete), responsável pela investigação do caso, chegaram à Clínica Revitalis por volta das 11h desde sábado. Outra clínica, identificada como Vista Alegre, também é alvo das investigações.


De acordo com a polícia, o casal queria desqualificar a vítima para obter parte de uma pensão. A tese de interesses financeiros também é sustentada pela própria vítima, segundo a Polícia Civil. Responsável pelo caso, o delegado Felipe Santoro afirmou que os médicos que atenderam a idosa também terão conduta apurada pela investigação.

O laudo que possibilitou a internação da vítima foi assinado pela médica Aline Cristina Correia. A profissional alegou que a idosa apresentava quadro de depressão grave e recorrente, além de delírios. A alegação, no entanto, não foi confirmada. A médica e o diretor da clínica também serão intimados a depor.

A Clínica Revitalis, que recebeu a transferência da vítima de uma outra clínica, afirmou, em nota, que “foi procurada por Patrícia de Paiva Reis, que solicitou a internação de sua mãe de 65 anos, com ‘histórico de depressão com episódios de confusão mental’. Em cinco dias na clínica, com abordagem multidisciplinar da equipe, foi constatado que a paciente não mais apresentava indicação de internação”. Segundo a clínica, a paciente também não apresentou resistência ou recusa em estar sob tratamento.


Antes de sequestrar a mãe na Zona Sul do Rio e interná-la à força em uma clínica psiquiátrica na Região Serrana do estado, Patrícia de Paiva Reis acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No apartamento da família, no Catete, os médicos constataram que a idosa não apresentava transtornos ou agressividade, mas se referia a filha com medo e retração, aparentando temê-la. Em um laudo que consta no inquérito que culminou com a prisão em flagrante da mulher, os profissionais narram ainda que, segundo vizinhos, ela ameaça a vítima “com frequência”.


O laudo aponta que a equipe médica presenciou a interação entre a aposentada, Patrícia; seu genro, Raphael Machado Costa Neves, que também foi preso pelo sequestro; e os dois seus dois netos, de 2 e 9 anos.

“Paciente apresentou comportamento carinhoso com os netos, porém, ao conversar com a Sra. Patrícia, esta informou que iria restringir a entrada de uma amiga da paciente. A paciente relutou sobre a decisão, mas a Sra. Patrícia referiu que o apartamento era dela e que ela faria o que quisesse. A partir desse momento, iniciou-se uma discussão sobre os bens materiais, não sendo mais necessário o atendimento do Samu, visto se notar um conflito familiar”, escreveram os médicos.


Na tarde da última quinta-feira, agentes da 9ª DP, após descobrirem o paradeiro da idosa, estiveram na clínica e a libertaram. Ao delegado, ela contou ter escrito diversas cartas no período de internação para “desabafar sua tristeza e seu medo” por estar ali sem sua anuência nem necessidade médica. Patrícia e Raphael foram presos em flagrante e indiciados pelos crimes de sequestro triplamente qualificado e coação no curso do processo. Eles não quiseram prestar depoimento.

— Iniciamos as diligências tão logo recebemos a informação de que uma idosa lúcida e sem nenhuma doença física ou mental estava sendo mantida em privação de liberdade em uma clínica. Após a prisão dos familiares que haviam determinado a internação, iremos investigar a conduta de médicos, enfermeiros e demais funcionários desses estabelecimentos a fim de entender a responsabilidade de cada um nesses crimes — explicou o delegado Felipe Santoro.

As investigações apontam que ao ser abordada por dois homens, no início da tarde de 6 de fevereiro, a idosa acreditou se tratar de uma “saidinha de banco” ou um sequestro relâmpago, mas logo percebeu que a violência acontecia a mando de sua filha, já que um dos criminosos disse que “era coisa de família”.


Dentro da ambulância, a aposentada narrou ter chorado durante todo o trajeto até Petrópolis e, ao chegar na clínica, teve a bolsa e o celular retirados pelos funcionários, sendo colocada em um quarto sem janela nem ventilação por três dias. No local, ela disse ter sofrido com fome e com sede e gritado diversas vezes por socorro. Depois, a idosa relatou ter sido levada para um espaço coletivo, onde passou a ser obrigada a ingerir medicações.

Em depoimento, a vítima disse ainda que questionava os médicos por sua alta, mas ele passava por ela e não a respondia. Durante o carnaval, ela contou ter recebido a visita de sua filha e do companheiro dela. O casal teria relatado a idosa que tentaria desqualificar o registro feito por ela na DCAV, demonstrando que ela sofria de “desequilíbrio mental”. Sem mais!


Por: Silvana Venâncio 


Fonte: o globo 

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